Figurinista desmonta a ideia de que o bege é ainda uma cor rural. “Há muitas cores, estampados e jeans na vestimenta pantaneira”, diz Marie Salles
Enquanto cenário e produção de arte enchem os olhos de quem gosta de reparar nos detalhes, o figurino não tem como se esconder, é o primeiro a ser visto e comentado. Agora na nova versão de ‘Pantanal’, a figurinista Marie Salles conta como ficou encantada com a explosão de cores que encontrou ao chegar na região onde a novela é ambientada, em sua primeira viagem, e como procurou imprimir isso no trabalho.
“Foi uma das minhas primeiras impressões. Enxerguei essa natureza, seu ciclo, o nascer do sol, o caminho que ele percorre ao longo do dia e as tantas cores que ele traz para essa natureza local, até o momento que a lua surge em seu lugar. É algo diferenciado. As árvores, as flores, os ipês, fui pegando essas cores e colocando nos personagens. No Joventino (Irandhir Santos), por exemplo, quis usar o pôr do sol, com tons alaranjados; a Juma (Alanis Guillen) também tem esse sol, mas em sua exibição momentos antes, tem um pouco do céu, das rosas; já Filó (Letícia Salles/ Dira Paes) tem cores das araras, dos ipês”, comenta Marie, animada com o resultado.
Seu trabalho, contudo, começou antes mesmo da primeira viagem, com uma ampla pesquisa, revisitando a primeira versão da novela e como os costumes e comportamentos mudaram de lá para cá. “A novela original era nossa diretriz. Assisti todos os capítulos para absorver as escolhas da época. Na década de 1990, tínhamos batsante marcado o conceito rural, mas hoje em dia vimos ao chegarmos ao Pantanal que ele está bem diferente. Entre assistir à novela e chegar ao Pantanal, comecei a construir minhas ideias com base em documentários, fotos, uma pesquisa profunda. E encontrei essa questão das cores ali também”, explica a figurinista. Embora não esteja no imaginário de todos os brasileiros, há hoje, no Pantanal, e em diversos outros locais do interior do Brasil, muito estampado, jeans. “Imagino que, assim como eu pensei, as pessoas pensem que o bege é uma cor que se destaca naquele cenário. Até era, antes. Não mais. Eles usam cor, muita cor, azul, vermelho, verde, e fui inserindo isso principalmente na segunda fase”, complementa.
Uma das personagens que mais atrai a curiosidade do público, a Juma, interpretada por Alanis Guillen, foi um desafio para Marie. “A Juma é uma pessoa que nunca viu nada. Ela não conhece nada, troca suas roupas na chalana, não tem dinheiro, não sabe o que é isso, o que é banco, televisão. Ela é bruta e tem uma energia bruta. Por isso, suas roupas são transparentes e são meio pôr do sol, meio rosa, meio nude. A sensação que vai dar é que ela está livre”, adianta Marie sobre a personagem.
Além das cores, outro destaque que o figurino merece é na indumentária específica dos peões pantaneiros. “Para o manejo com o gado, eles usam calça jeans, bota curta, faixa pantaneira, que não é só um acessório estético, mas tem a função de ajudar a manter saudável a coluna dos peões. Em geral, são feitas por mulheres pantaneiras e são bastante coloridas, é algo fácil de encontrar na região. Os peões usam ainda um cinturão de couro, onde colocam o canivete e o celular, que estará presente na segunda fase. Ele funciona como uma pochete, mas é um cinto. A calça de couro por cima da calça jeans é bastante usada também, a fim de proteger as pernas de quem anda a cavalo. Protege de galho e cobra, por exemplo. E tem o chapéu, usado por todos, porque é um local muito quente, quase sempre”, explica.
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